[dropcap]L[/dropcap]ançado na semana passada com o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o movimento suprapartidário em busca de viabilizar uma candidatura comprometida com as reformas estruturais avalia ser Marina Silva (Rede) uma possibilidade de consolidação como alternativa ao chamado “centro democrático” na disputa presidencial.
Líderes políticos integrantes do grupo acreditam que as conversas devem se concentrar em três nomes: a ex-ministra do Meio Ambiente, o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin e Alvaro Dias, pré-candidato do Podemos.
A preocupação é criar uma terceira via para enfrentar eventual polarização entre o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e um candidato representante de uma coalizão de esquerda. Parte dos signatários do manifesto Por um Polo Democrático e Reformista, lançado na semana passada, incentivou a entrada de um outsider na corrida presidencial, no caso, o apresentador Luciano Huck, que declinou do convite feito pelo PPS.
Nesse aspecto, a avaliação é que, além do desempenho nas pesquisas de intenção de voto, Marina ainda é um nome menos contaminado pelo desgaste com os partidos e a política tradicional.
Na pesquisa Datafolha divulgada no domingo (10/6), a ex-ministra se mantém em segundo lugar, com até 15% das intenções de voto nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, preso e condenado na Operação Lava Jato.
Bolsonaro lidera com 19% das preferências na ausência de Lula. Alckmin, que tenta unir o “centro” em torno do seu nome, alcança 7% das intenções de voto, em situação de empate técnico com o ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato do PDT com intenções de votos oscilando entre 10% e 11%. Já Alvaro Dias aparece com 4%.
“Marina é uma candidata desse campo. O nome dela deve ser levado em consideração. Achamos no PPS que Alckmin é o melhor candidato, mas não podemos ir para a conversa impondo o nome dele. Temos de admitir não ser possível”, disse o presidente nacional do PPS, Roberto Freire. Segundo Freire, em conversa recente, a mesma avaliação foi feita por Fernando Henrique. Para ele, “não convém” fechar portas para a ex-ministra.
O grupo ainda acredita em fôlego de “maratonista” de Alckmin e em seu crescimento quando a campanha começar de fato. O nome de Marina, porém, é visto como alternativa, especialmente em face à crise interna afetando a pré-campanha tucana.
Estacionado nas pesquisas de intenção, o ex-governador enfrenta a desconfiança de aliados e até de setores do próprio PSDB sobre suas chances. Pressionado a adotar uma estratégia mais agressiva, a articulação do grupo ligado a FHC irritou o entorno de Alckmin. A leitura é que o movimento criou um clima ruim e “espantou” os dois principais alvos do partido nesse momento: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e Alvaro Dias. Os tucanos marcaram um jantar com Maia na próxima semana para recompor a relação. “O objetivo é estarmos todos juntos no primeiro turno, mas com Geraldo na cabeça da chapa”, disse o deputado Nilson Leitão (MT), líder do PSDB na Câmara.
Fernando Henrique se reuniu recentemente com a senadora Rose de Freitas (PodemosES) em São Paulo para falar sobre a necessidade de união do centro já no primeiro turno e demonstrou preocupação com a fragmentação desse campo político em muitas candidaturas.
Em conversas com aliados, o pré-candidato do Podemos diz acreditar em um afunilamento no primeiro turno para dois candidatos do centro: um liderado pelo PSDB e outro à margem dessa composição. “É difícil saber agora qual é o nome mais adequado para liderar essa convergência. É muito cedo para identificarmos. O ambiente está muito confuso”, afirmou Dias.
Resistências
Na Rede, há resistências a uma aproximação com o PSDB – Marina já apontou falta de “identidade programática” entre as siglas – e partidos do centro. Interlocutores, do ponto de vista pragmático, apostam em uma aliança, mas veem dificuldade em conciliar temas da economia e do meio ambiente.
“Em hipótese alguma Marina abriria mão de ser candidata e, dificilmente, abriria mão da independência da polarização entre PT e PSDB”, disse o coordenador da Rede, Bazileu Margarido. O “plano A” da pré-candidata é reavivar as alianças de 2014, principalmente o PSB, que tem 26 deputados na Câmara e também é cortejado pelo PT e o PDT.
O receio de uma polarização entre Bolsonaro e um candidato da esquerda e a percepção de que nenhum candidato mais identificado com as reformas estruturais tem chance de vitória ajudou a estressar o mercado na semana passada. Na quinta-feira (8/6), o dólar registrou uma disparada e chegou R$ 3,91, enquanto a Bolsa caiu 2.93%.