Substâncias usadas em pílulas e cápsulas podem prejudicar o organismo

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[dropcap]A[/dropcap] grande parte das pílulas e cápsulas contém componentes além dos remédios,conhecidos como ingredientes inativos, que ajudam a estabilizar o fármaco, auxiliam na absorção, melhoram a aparência e o sabor, entre outras funções. Cientistas americanos resolveram investigar melhor os efeitos desses elementos.

Em uma análise que envolveu mais de 40 mil drogas, detectaram 38 substâncias que têm associação com o desencadeamento de alergia, como a lactose. Os investigadores acreditam que a descoberta serve como alerta tanto para quem prescreve medicamentos quanto para quem os ingere.

Os pesquisadores vasculharam revistas médicas e encontraram vários estudos descrevendo pacientes que tinham reações alérgicas a ingredientes inativos, como corantes químicos. Em busca de mais dados, se propuseram a descobrir o máximo possível sobre essas substâncias, presentes tanto em medicamentos que exigem receita quanto os de venda livre. O banco de dados Pillbox, que contém detalhes sobre quase todos os remédios disponíveis nos Estados Unidos (42.052), serviu de fonte principal.

Em resumo, descobrimos que, em média, 75% da massa de uma pílula ou uma cápsula são absorvidos por ingredientes inativos. Apenas 25% equivalem à droga que o paciente deseja tomar. A combinação do fármaco e do ingrediente inativo é denominada formulação”, conta ao Correio Giovanni Traverso, professor-assistente do Departamento de Engenharia Mecânica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, em inglês), gastroenterologista do Brigham and Women’s Hospital, e principal autor do estudo.

Em média, as formulações contêm mais de oito ingredientes inativos, mas há composição que pode chegar a 35, conta Traverso.

“Surpreendentemente, descobrimos que quase todas as pílulas ou cápsulas disponíveis (92,8%) contêm esses ingredientes”, ressalta. A equipe também detectou que 55% dos medicamentos continham açúcares chamados FODMAP, ligados ao surgimento de problemas digestivos. “Vimos que metade de todos os medicamentos pode conter certos açúcares ou lactose, o que pode causar sintomas gastrointestinais em pacientes que sofrem de síndrome do intestino irritável ou intolerância à lactose grave”, detalha Traverso.

A expectativa da equipe é de que as descobertas ajudem a aumentar a conscientização sobre os riscos potenciais que os ingredientes inativos representam a alguns indivíduos. Os investigadores também acreditam que os resultados sensibilizem farmacêuticas a desenvolver formulações alternativas.

“Estamos trabalhando em maneiras de tornar mais fácil para os profissionais de saúde e os pacientes terem acesso a todas as informações associadas a uma pílula prontamente. Também estamos realizando mais estudos para identificar quais ingredientes inativos podem ser os mais seguros”, adianta Traverso. “Isso permitirá conversas com a indústria farmacêutica e as agências legislativas para ajudar na substituição de ingredientes inativos críticos e, assim, criar fórmulas que sejam seguras.”

Também faz parte dos planos da equipe realizar análises com voluntários a fim de estudar a quantidade de lactose e de outros ingredientes inativos que pode gerar sintomas em pessoas com intolerância a essas substâncias. “É preciso haver mais testes clínicos e mais dados disponíveis para que possamos ajudar esses pacientes”, diz Traverso.

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