Vereador acusado de mandar matar Marielle se apresentava como candidato ao prêmio Nobel da Paz

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Marielle-Priscila Petrus

[dropcap]O[/dropcap] vereador Marcello Siciliano (PHS), apontado em reportagem do jornal O Globo como um dos possíveis mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), obteve 13.553 votos na eleição para a Câmara do Rio em 2016, a maioria na zona oeste, seu reduto eleitoral.

Ele conseguiu a vaga, no entanto, não por sua votação direta, mas por meio do quociente eleitoral, devido à ampla aliança costurada pelo MDB com outros 14 partidos, inclusive o PHS, em torno da candidatura de Pedro Paulo à prefeitura, derrotada pelo hoje prefeito do Rio Marcelo Crivella (PRB).Marielle-Priscila Petrus

Atualmente, Siciliano é da base de apoio do prefeito do Rio. Em 2010, sem sucesso, ele havia tentado uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio pelo PSDC. À época, se apresentava como um empresário bem-sucedido e o brasileiro mais jovem a ser indicado ao Prêmio Nobel da Paz.

O motivo seria o trabalho que desempenha desde 1998 junto a comunidades dos bairros de Vargem Grande e Vargem Pequena, na zona oeste. O hoje vereador era empresário do setor de automóveis (atuava na revenda de carros) e do ramo da construção.

Segundo relato em vídeo publicado na página da Câmara Municipal do Rio, ele teria decidido naquela época ajudar a terminar a obra de uma creche na região. A partir de então passou a ser um líder natural dos bairros, conhecidos pela proximidade com a Barra da Tijuca, mas também pela carência de serviços públicos de qualidade.

Além da creche para 100 crianças, teria ajudado em projetos locais de dança, luta e futebol. Teria sido por causa dessa atuação que, em 2010, uma ONG chamada Comitê da Paz indicou seu nome para concorrer ao prêmio Nobel da Paz, ao lado do então presidente Lula e da médica Zilda Arns.

Em sua página do Youtube, Siciliano publicou um vídeo em que visita a sede da fundação responsável pelo prêmio. A Folha procurou a fundação Nobel na Suíça para confirmar se de fato o vereador já havia sido indicado ao prêmio, mas não obteve resposta.

No site da instituição não há nenhuma menção ao brasileiro. Os telefones disponíveis no site da ONG Comitê da Paz não existem, bem como a sede da organização no endereço disponível, em uma rua de terra batida em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.

A despeito das dúvidas quanto à veracidade da indicação, Siciliano teve sua atuação social reconhecida em seus redutos eleitorais. Cerca de 25% de seus votos foram recebidos de eleitores da Barra da Tijuca, Recreio e Vargem Grande.

De acordo com reportagem do jornal O Globo, uma testemunha teria indicado que Siciliano seria ligado ao ex-policial militar Orlando Oliveira Araújo, conhecido como Orlando de Curicica, preso desde outubro passado e apontado como chefe da milícia que atua em Jacarepaguá e Curicica.

Os dois teriam tramado o assassinato da vereadora porque ela estaria atrapalhando os planos de expansão territorial do grupo em direção à favela da Cidade de Deus, hoje dominada por traficantes.

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